Eu, Robô – uma instigante construção de ficção científica

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Foto: Bárbara Valdez

Nove contos interligados nos quais os robôs são o tema central de cada um deles. Histórias escritas há mais de 70 anos, mas que continuam atuais em muitos aspectos, servindo de inspiração para uma infinidade de outras aventuras que surgiriam posteriormente.

O livro Eu, Robô traz uma narrativa fluida (apesar de trabalhar com abstrações e questões cientificamente técnicas), tem histórias envolventes desde a primeira página e cada universo criado é bem escrito e completo em si mesmo.

As Três Leis Fundamentais da Robótica

1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido.

2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.

3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

O exemplar em questão nesta resenha foi escrito por Isaac Asimov, escritor de origem russa, e publicado pela Editora Aleph, em 2014. As primeiras publicações, no entanto, foram feitas na década de 40 de forma independente e não como um livro de aventuras robóticas compiladas.

Ao ler Eu, Robô nós nos deparamos com 09 histórias diferentes cujos enredos enfocam um robô específico (ou um possível personagem robótico). Assim, conhecemos Robbie, Speedy, Cutie, Dave, Herbie, Nestor 10, Cérebro, as Máquinas e a história do político Byerley.

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Fonte: Internet

Todas as narrativas, apesar de independentes, estão conectadas entre si e têm ligação com a U. S. Robots (empresa de construção de robôs) e com a Dra. Susan Calvin, que trabalha para a companhia. Os contos surgem como lembranças das experiências vividas pela médica ao longo de toda a sua história. Assim, quando um repórter vai reunir material para fazer um artigo sobre a aposentadoria da Dra. Calvin, que está completando 50 anos de carreira e 75 de vida, o leitor tem o prazer de conhecer 09 aventuras envolventes.

Cada conto nos faz entrar de modo mais profundo no universo robótico construído pelo Asimov e a medida que lemos podemos perceber nuances nas características dos seres mecânicos. Dentro do livro também somos apresentados às 3 Leis Fundamentais da Robótica, regras que regem toda a construção de robôs de forma mundial e que não podem ser infringidas.

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Foto: Bárbara Valdez

O mais interessante com as histórias em Eu, Robô é que é visível como elas serviram de inspiração para diversas outras aventuras de ficção científica. Alguns dos contos que mais gostei, e percebo como eles foram reaproveitados em vários filmes, foram Robbie; Evidência; Mentiroso!; Razão; e O conflito evitável.

Robbie é um conto que fala de um robô babá amado por uma garotinha chamada Gloria e sobre o medo da mãe da menina quanto à essa amizade. “Evidência” aborda a suspeita que surge em torno de um homem sobre ele ser um robô humanoide fazendo-se passar por um ser biológico. A junção dessas duas histórias me lembrou claramente o filme O Homem Bicentenário, estrelado por Robin Williams em 1999.

Os braços de aço cromado de Robbie (capazes de dobrar uma barra de aço de 5 centímetros de diâmetro como se fosse um pretzel) envolviam a garotinha com delicadeza e ternura, e seus olhos tinham um brilho vermelho muito intenso. P. 45

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Cena do filme O Homem Bicentenário.

“Razão” e “O conflito evitável” trazem uma reflexão acerca da capacidade das máquinas de dominar uma situação e, muitas vezes, de controlar a ação dos humanos. Este último mostra que as máquinas estão agindo por conta própria para guiar o comportamento dos seres humanos em prol de um “bem maior” e a decisão no final de cada coisa vai ser sempre delas. O outro mostra Dave, um robô com crenças racionais tão puras que acabam resultando em um fanatismo religioso.

Asimov não aborda essas questões de forma negativa, na verdade, ele sempre ressalta o lado positivo dos robôs e mesmo nos casos mais extremos busca justificativas para apaziguar uma atitude que pode gerar consequências negativas para a humanidade se sair do controle. Essa atitude do autor me incomodou um pouco, é estranho ele ressaltar que por mais que as máquinas evoluam, elas sempre vão fazer o melhor para a humanidade.

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Foto: Bárbara Valdez

Na contramão das justificativas complascentes de Asimov derivaram vários filmes que não viam essa dominação mecânica de forma tão positiva. Histórias como O Exterminador do Futuro, Matrix, Controle Absoluto ou mesmo o filme Eu, Robô (estrelado por Will Smith, em 2004) são exemplos disso.

Para quem viu a versão cinematográfica de Eu, Robô (que gosto bastante) devo avisar que ela é bem diferente da produção literária. Apesar disso é possível perceber características de cada um dos 09 contos presentes na história com Will Smith.

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Cena do filme O Exterminador do Futuro.

– Você está me dizendo que a Raça Humana perdeu a possibilidade de opinar sobre o próprio futuro.

– Ela nunca teve, de fato, essa possibilidade. P. 302

Mentiroso! é um conto sensível que trabalha bastante com as emoções humanas. Ele gira em torno de Herbie, um robô que pode ler mentes e que tenta, à sua maneira, ajudar as pessoas. O final da história é  um tanto frio e me fez confirmar minha antipatia pela Dra. Calvin.

Eu gostei bastante do livro como um todo e recomendo a leitura a todos que também gostam de ficção científica. Em alguns momentos da história, no entanto, senti que ocorreram incongruências sobre a ação dos robôs perante as Três Leis. Isso, pois algumas explicações quanto aos “dilemas” de reação enfrentados pelas máquinas variavam entre os contos e não faziam tanto sentido se analisássemos explicações dadas anteriormente (mas talvez seja só eu que não tenha entendido tão bem).

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Foto: Bárbara Valdez

No final dessa edição de Eu, Robô tem algumas explicações feitas pelos próprio Isaac Asimov acerca da paixão dele por ficção científica e por robôs, em especial. Ele também comenta sobre uma série que fez cujo primeiro livro é As Cavernas de Aço e fiquei com uma super vontade de lê-lo.

Quem quiser adquirir Eu, Robô pode encontrar o exemplar na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura.

Talvez todos os roboticistas devessem morrer agora, já que não podemos entender nossa própria criação. P. 278

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